Desenvolvendo para Viver: o caso dos de caranguejo tabaiares  e os jovens empreendedores de caranguejo tabaiares

Área Temática: Relato de Experiência

Éder Lira de Souza Leão – Universidade Federal de Pernambuco – eder2403@hotmail.com

 

Thiago Ferreira Dias – Universidade Federal de Pernambuco – tfdpe@yahoo.com.br

 

 

Resumo: Este artigo empreende um relato de uma pesquisa de campo, em que foi acompanhado o dia a dia de um empreendimento - Jovens Empreendedores de Caranguejo Tabaiares - de uma comunidade (Caranguejo Tabaiares) no Recife. Foi acompanhada e analisada tanto a organização interna como criação, produção e comercialização dos produtos e gestão deste grupo produtivo assim como as entidades da sociedade civil que promovem ações sociais importantes para sua estruturação e fomento. Conclui pela identificação de uma relação intrínseca entre as organizações da sociedade civil e a formação deste grupo produtivo em cada estágio de desenvolvimento. Este empreendimento surge como um grito da identidade social de uma comunidade e o manifesto da resistência cultural desses cidadãos.  Este relato apresenta sua importância como fonte de informações de um empreendimento se desenvolvendo a cada dificuldade e se fortalecendo a cada conquista.

 

 

 

Palavras-chave: solidariedade – desenvolvimento local – empreendimentos solidários  – protagonismo juvenil - empreendimento – economia solidária

 

I. Introdução

 

O presente artigo foi proposto devido à percepção da do crescente interesse e atuação de várias organizações da sociedade civil e gestores públicos na comunidade Caranguejo Tabaiares e o surgimento de um empreendimento formado por jovens da comunidade capacitados pelas entidades presentes na comunidade.

A comunidade de Caranguejo – Campos Tabaiares é uma ZEIS (Zona Especial de Interesse Social – Lei nº 16.113 / 95) que fica no bairro da Ilha do Retiro Zona Sul do Recife. Oficialmente são duas comunidades diferentes, contudo numa breve caminhada por elas se  entende de imediato porque é considerada uma só, além das habitações, ruas e becos serem interligadas, os problemas sociais, econômicos e ambientais são os mesmos, tanto é que para organização e defesa dos interesses dos moradores foram criadas uma Associação dos Moradores de Caranguejo Tabaiares, uma Associação Defensora das Comunidades de Caranguejo Tabaiares e uma União de Moradores de Caranguejo Tabaiares, as três entidades mesmo surgindo por disputas e insatisfações políticas entre os próprios moradores, tem como principal pauta, as lutas pelos seus direitos, ou seja, os próprios moradores não separam o território da comunidade em duas partes, pois lá moram e lutam um só povo. Todavia, no momento de mobilização e campanhas pela reivindicação de obras de infra-estrutra e políticas públicas no Orçamento Participativo do município do Recife, a comunidade se torna duas, o que é muito bom para os moradores, pois eles têm duas vezes mais oportunidades de garantir projetos de melhoria da comunidade, essa divisão política é feita assim: Caranguejo (tem esse nome por antigamente haver caranguejos em abundância e essa área ser uma maré, hoje aterrada) está incluída na RPA 5 (Região Política Administrativa) da Microrregião 5.1, já Campos Tabaiares (o nome se origina por nesta área antigamente haver um campo de futebol que era usado por um time chamado Tabaiares Futebol Clube) pertence a RPA 4 da Microrregião 4.1. Hoje a comunidade tem população estimada em 3.458 pessoas possuindo 809 domicílios distribuídos numa área de 9,58 hectares, cuja morfologia predominante é alagada (BANCO DE DADOS DAS ZEIS, 2005).

Aproximadamente desde o início do século passado ocorreram as primeiras ocupações no território de Caranguejo, e há pouco mais de três décadas no território de Campos Tabaiares. Os problemas da comunidade são todos possíveis de uma região insalubre, como falta de saneamento e, moradias mal construídas, algumas são palafitas a beira de um braço morto do Rio Capibaribe, desemprego, falta de oportunidades para os jovens e principalmente a descontinuidade das obras e projetos realizados pela Prefeitura do Recife, que geram indignação, insatisfação e desesperança nos moradores.

A História de Caranguejo Tabaiares é de lutas (muitas delas inacabadas) e conquistas (que geram outras lutas). Além das já citadas entidades de defesa e representação dos moradores existentes, há ainda outras organizações locais como um Grupo de Idosos, um Clube de Mães, as representações no Orçamento Participativo e COMUL (Comissão Municipal de Urbanização e Legalização da Terra), uma escola comunitária, um grupo de capoeira, um grupo de jovens que organizam mobilizações e campanhas de interesse para a comunidade chamado Força Jovem e um grupo produtivo formado por jovens chamado Jovens Empreendedores de Caranguejo Tabaiares.

Na vontade de oferecer uma melhor qualidade de vida aos jovens e demais moradores da comunidade Caranguejo Tabaiares, diversas entidades de apoio, fomento e assessoria desenvolvem atualmente projetos e cursos. O Centro Josué de Castro de Estudos e Pesquisa desenvolve um trabalho de incentivo ao cultivo de camarões em 18 viveiros e outras ações como a construção de um plano de ação para a questão ambiental da comunidade e a criação de um clube de trocas, a ONG AdoleScER trabalha com saúde, educação e cidadania para adolescentes e gestantes em atividades como Dança Popular, Língua Portuguesa, Formação (educação sexual e cidadania) e Teatro de Bonecos, já a ETAPAS (Equipe Técnica de Assessoria, Pesquisa e Ação Social) em parceria com o SEBRAE e o Projeto DELIS (Desenvolvimento Local Integrado Sustentável) realizaram vários cursos com o objetivo de desenvolver habilidades específicas e capacidades cognitivas, produtivas e empreendedoras, que possibilitem o acesso ao trabalho e à geração de renda.

 

II. Problema de pesquisa

 

O interesse de pesquisar e escrever sobre os Jovens Empreendedores de Caranguejo Tabaiares surgiu em 2004 durante o II Festival da Economia Popular Solidária de Pernambuco (9 a 12 de Dezembro), quando este grupo produtivo participava da Feira comercializando seus produtos (Baús, Bancos e Quadros de Mosaico, Artesanato de Materiais Recicláveis) e divulgando sua comunidade, percebemos de imediato o interesse e ação de diversas organizações da sociedade civil desenvolvendo atividades junto aos jovens dessa comunidade. A curiosidade aumentava à medida que eles contavam mais sobre o lugar e as manifestações que ocorriam, desde da cultura artística local, passando pelo desenvolvimento comunitário até as transformações de muitos jovens que protagonizaram oportunidades de trabalho e renda.

Havia ainda um interesse muito grande de entidades internacionais como o Frerès des Hommes e o DED - Detscher Entwicklungsdienst (Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social).

Os questionamentos eram quão de especial esta comunidade tinha ante as outras em Recife, reunindo tantas ONG’s, Organizações Locais, Gestores Públicos e Entidades Internacionais? Se quer havia tido conhecimento sobre essa comunidade ou mesmo sobre esses Jovens Empreendedores. Essa rede de entidades da sociedade civil e o protagonismo desses jovens nos fizeram querer conhecer de perto, poder acompanhar um pouco do dia a dia do grupo produtivo.

Foi desses depoimentos sobre a expansão dos distúrbios socioeconômicos e políticos da comunidade que procuramos responder nossos questionamentos acadêmicos sobre o fenômeno de Caranguejo Tabaiares através de um empreendimento que não é somente solução de trabalho e renda e sim uma resposta animadora de superação e desenvolvimento de toda uma comunidade.

 

 

III. Objetivo

 

Geral

 

 

Específicos

           

 

 

IV. Revisão Bibliográfica

 

ETAPAS. Caranguejo e Tabaiares: História, Lutas e Conquistas. Recife: ETAPAS, 1997.

 

Projeto Terra Cidadã: Capibaribe sem palafitas. Caranguejo / Tabaiares Produto 3.1 – Diagnóstico Socioeconômico. Fundação Banco do Brasil, Prefeitura do Recife, Fundação Odebrecht, Recife, maio de 2005.

 

Projeto Terra Cidadã: Capibaribe sem palafitas. Caranguejo / Tabaiares Produto 3.2 – Relatório de Pesquisa Qualitativa. Fundação Banco do Brasil, Prefeitura do Recife, Fundação Odebrecht, Recife, maio de 2005.

 

 

V. Metodologia Metodologia

 

Esta pesquisa teve uma perspectiva de análise local a partir de um acompanhamento realizado de maio a julho de 2005 in loco ao empreendimento Jovens Empreendedores de Caranguejo Tabaiares e análise de dados coletados nas entidades de apoio, fomento e assessoria que apóiam este grupo produtivo e demais organizações locais.  As visitas foram realizadas de segunda a sexta (e alguns sábados) em turnos alternados, quando era pela manhã acompanhava-se o processo de produção e umas outras vezes para participar de campanhas de mobilização para o Orçamento Participativo, Eleições da COMUL, Encontro de Jovens entre outros eventos e atividades. Já no período da tarde eram feitas visitas às organizações locais, aos vários pontos da comunidade (palafitas, ruas sem saneamento, becos, casas de moradores, viveiros, canal, etc) e visitas às entidades de apoio, fomento e assessoria que desenvolvem algum tipo de atividade de intervenção na comunidade. No período da noite não foram feitas visitas ou outra atividade, pois por recomendação dos próprios moradores e da ETAPAS (que deu apoio neste estudo) seria muito perigoso devido a violência, tanto que mesmo ao dia, só fazíamos fazia certas visitas acompanhados por alguns dos jovens.

 

Tipo de Pesquisa 

 

a.      Quanto aos fins: Trata-se de uma pesquisa, ao mesmo tempo, descritiva e explicativa. Descritiva, pois pretende expor as características dos jovens produtores envolvidos na pesquisa, e explicativa, pois visa mostrar quais os fatores que contribuem para o desenvolvimento deste grupo produtivo.

b.     Quanto aos meios: Será uma pesquisa, ao mesmo tempo, de campo e estudo de caso. De campo porque coletará dados das organizações locais, entidades de apoio, fomento e assessoria, gestores públicos e do próprio grupo pesquisado, e estudo de caso com intuito de aprofundar com detalhes a pesquisa.

Universo / População

 

Os jovens produtores do empreendimento Jovens Empreendedores de Caranguejo Tabaiares.

Amostra

 

Serviram de sujeitos para a pesquisa os jovens produtores do empreendimento Jovens Empreendedores de Caranguejo Tabaiares e as organizações locais, entidades de apoio, fomento e assessoria e gestores públicos. A seleção de entidades que atuam no fomento deste grupo produtivo forami feitas pelo critério de atuação direta, pois teriam com certeza informações, documentos e registros de suas atividades.

 

VI. Análise dos Resultados

 

Planejamento da Pesquisa de CampoVisita a ETAPAS

 

As atividades da pesquisa se iniciaram em 2 de maio, visitando a Equipe Técnica de Assessoria, Pesquisa e Ação Social (ETAPAS), para conhecer sua sede, coletar informações de como esta entidade atua na comunidade por meio de publicações (livros, jornais, convites de seminário, folders) e marcar uma visita à comunidade nos próximos dias acompanhado de um técnico que atue no território.

 Uma observação importante foi a grande movimentação de jovens pela ETAPAS, indo e vindo, todos eram de diversas outras comunidades de Recife, inclusive de Caranguejo Tabaiares. Eles participam de capacitações na própria sede da entidade que possuem uma estrutura de duas salas de aula e um espaço aos fundos para atividades práticas de artesanato, dança, encontros, e ainda conta com um cyber café, onde os jovens dessas comunidades podem acessar à Internet, fazer seus currículos, trabalhos escolares sem custo algum. Nesta ONG existem dois cursos, o Formação Continuada que tem duração de 1 ano e prevê aulas diárias sobre cidadania e, direitos humanos e o Consórcio Social da Juventude (um dos projetos do Programa Primeiro Emprego do Ministério do Trabalho e Emprego) capacitando jovens em artesanato e restauração de móveis para atuarem no mercado de trabalho.

Esta organização da sociedade civil existe desde os 1980 desenvolvendo ações para o desenvolvimento e fortalecimento das organizações comunitárias, promovendo capacitações, mobilizações, campanhas, pesquisas, publicações entre outras ações que articulem as organizações comunitárias. Foi ela responsável pelo apoio e assessoria para criação da Associação das Rádios Comunitárias de Pernambuco e hoje é uma das importantes organizações na construção e engajamento do FERU (Fórum de Reforma Urbana), também teve participação na criação da Lei do PREZEIS (Plano de Regularização das Zonas Especiais de Interesse Social - Lei nº 16.113 / 95). No entanto desde 1996 a ETAPAS começou a incluir os jovens em seus projetos, iniciou com uma pesquisa a comunidade de Caranguejo Tabaiares que resultou em 1997 na publicação Caranguejo e Tabaiares: Histórias, Lutas e Conquistas, cujo dado mais importante talvez tenha sido a revelação de que metade da população era de crianças e jovens (46%), sendo 835 crianças (de 0 a 11 anos) e 573 adolescentes (de 12 a 18 anos). A pesquisa revelou ainda que de um grupo de 1.014 crianças e adolescentes entre 6 a 18 anos, desse total 808 ainda freqüentavam a escola enquanto 206 já haviam abandonado (ETAPAS, 1997). Numa pesquisa mais recente, de maio de 2004 do Projeto Terra Cidadã: Capibaribe Sem Palafitas apresenta que o nível de escolaridade da grande maioria da população (64,1%) estão no patamar do ensino fundamental incompleto, sendo apenas 4,3% tem o ensino fundamental completo. De uma amostra de 348 jovens na faixa etária de 15 a 19 anos 62,9% não conseguiram completar o ensino fundamental. Observando esses dados pensamos logo que o futuro será desastroso para os jovens dessa comunidade, pois num mundo cosmopolita onde a mídia eletrônica e o trabalho exigem cada vez mais mão de obra qualificada / conectada com os avanços de uma sociedade de mercado maximizadora de lucros e minimizadora de relações sociais. No entanto ao nos depararmos com a realidade de hoje da comunidade, essa desgraça do antagonismo do crescimento econômico não precisa esperar o futuro, ela é do presente, é visto nas ruas sem calçamento e dentro da maioria das casas sem saneamento e principalmente nas pessoas humanas sofridas de esperança.

 

Início das Visitas

A primeira Visita a CT

A primeira visita “turística” foi no dia 4 de maio, no entanto, antes mesmo de irmos, foi- nos me relatado que há diversos representantes de entidades estaduais, nacionais e principalmente internacionais (Bélgica, Itália, França) que vão conhecer o lugar, visitar os principais malogros da comunidade munidos de câmeras digitais registrando tudo com bastante impressão, essas visitas  guiadas com pessoas de fora são bastante freqüentes. E nisto, há uma preocupação para que não ocorra exploração da imagem da comunidade para interesses ilícitos, tanto que já há reclamação de moradores por ver tanto pesquisador e curiosos irem lá e a situação não melhorar o suficiente. No entanto, ressalto que há quem verdadeiramente se importa em prover e conquistar melhorias ao território e a qualidade de vida das famílias numa integração entre ambas (entidades e comunidade), essa desconfiança é justificada, pois há q uem vá somente coletar dados, tirar fotos e dá uma de estelionatário captando dinheiro para comunidade, dinheiro esse que nunca chegou, assim como foi nos relatado em uma conversa informal.

Fomos Fui levados por uma técnica da ETAPAS , Juliene Tenório, coordenadora do Projeto de Intervenção em Caranguejo Tabaiares a fazer uma visita geral, conhecer as principais organizações locais, o canal do ABC, as palafitas, os viveiros, alguns líderes comunitários, sempre fazendo explicações sobre a história e condições de cada local. Por fim neste dia conhecemos conheci os Espaço Juventude Fazendo Arte que fica logo no início de uma das entradas da comunidade, na Rua Campos Tabaiares 3ª Travessa, nº 51, também no início desta rua fica o Clube de Mães que também funciona como escola comunitária (Escola Sonho Grupo de Mãe da Madalena), além disso, tem o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) e Programa Leite de Pernambuco, quem coordena esse Clube de Mães é uma ex-moradora, Gilvanise, que há muito se mudou para o bairro da Madalena, contudo mantém estreita sua relação com a comunidade de Caranguejo Tabaiares, pois cedeu sua casa para ser a sede desta entidade e trabalha voluntariamente desenvolvendo essas ações. Ainda na Rua Campos Tabaiares, no final dela, já as margens do canal do ABC, está a sede da União dos Moradores de Caranguejo Tabaiares, onde são realizados as reuniões e encontros da comunidade, cursos promovidos pelas ONG’s e assim como o Clube de Mães tem o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI).

Depois dessa visita geral, voltamos para a sede do grupo produtivo Jovens Empreendedores de Caranguejo Tabaiares. No momento que passamos passamos logo que chegamos não havia nenhum jovem trabalhando e se manteve assim quando voltamos, não foi uma surpresa, pois já havíahaviamos sido relatados das dificuldades deles estarem presentes produzindo, por vários motivos, desde preguiça por não haver ainda um nível de organização para trabalho em grupomesmo até preferirem produzir as peças em suas próprias residências, o curioso é que todos moram próximos do local. Aproveitamos para conhecer os espaço e ver algumas das peças o que eles produziamproduzem. Depois dessa visita geral, continuei nos outros dias empenhado em acompanhar a formação, gestão e produção na sede do grupo produtivo Jovens Empreendedores de Caranguejo Tabaiares.

 

Conhecendo o Espaço Juventude Fazendo Arte

Segundo relatos, textos, fotos e convites que recolhemos recolhi esta casa foi uma articulação promovida pela ETAPAS através do Projeto Organização e Mobilização em Caranguejo Tabaiares com o apoio do SEBRAE-PE. Iniciaram na formação deste empreendimento juvenil, 20Os jovens que restauraram a estrutura física do local, aplicando as técnicas aprendidas nos cursos na ETAPAS e SEBRA-PE, como restauração de móveis, textura, pintura, mosaico, uma grande reforma que deixou o espaço como ponto de referência da comunidade, a inauguração aconteceu no dia 23 de setembro de 2004, contou com festa e bolo, participação de diversas entidades que prestigiaram o evento e os moradores que vieram em grande quantidade, pois não é são todos os dias que há acontecimentos como este.

A casa é pequena, tem uma sala principal onde os jovens utilizam para produzir e dois cômodos que servem para guardar os materiais, documentos e as peças produzidas e um banheiro também decorado. A ETAPAS contribui para o pagamento do aluguel da casa, luz e água, e ainda materiais de consumo de expediente. O motivo é que os jovens não possuem receita o suficiente, às vezes pagam a luz e a água, por serem valores muito baixos. A ETAPAS ainda orienta a produção e comercialização, o calculando cálculo dos preços, levandoincentivado-os para irem participar das feiras e ainda incentiva comunicam a eles a participarem de cursos e palestras, mesmo com tudo isso ainda são desorganizados quanto à à organização interna (limpeza, arrumação da casa), como também no processo de produção e comercialização, onde uma fase não acompanha a outra disciplina ao produzir (demora na produção e na entregadistribuição)., esquecem ou anotam os pedidos de qualquer jeito sem informações do cliente.

Os produtos que eles fazem são principalmente bancos e quadros feitos de mosaico, envelhecimento de baús, cortinas de garrafas e tampas de PET e artesanato com materiais recicláveis. Ainda podem prestar serviços na restauração de móveis e textura de paredes. Observou-se que alguns membros do grupo produtivo temalguns membros do grupo produtivo têm outras aptidões, que aprenderam em diversos cursos, como confecção, marcenaria, retalho, etc.

 

A importância das Organizações Sociais para o Desenvolvimento Local

Na coleta de dados nas entidades que promovem intervenções na comunidade e que diretamente suas ações atinjam os Jovens Empreendedores de Caranguejo Tabaiares (JECT), porém apenas a ETAPAS, o SEBRAE com o Projeto URBE Recife e o DELIS (Desenvolvimento Local Integrado Sustentável) possuíam publicações (jornais, folders, cartazes, fotos, documentos, memórias de reuniões, livros, documentários e reportagens de televisão e áudio) de forma significativa, que pudesse ser analisado a importância da influência dessas instituições na criação, formação e desenvolvimento deste grupo produtivo. Outras entidades como a Faculdade de Administração de Pernambuco (FCAP), Coletivo Mulher Vida, Centro Josué de Castro, ADOLESCER, Casa de Passagem, estas atuam mais diretamente com outros públicos da comunidade (criadores de camarão, adolescentes, mulheres, etc) que indiretamente afetam alguns dos jovens do JECT, portanto suas publicações correspondem a estas ações e não de fomento do grupo produtivo.

 

Desorganização e Dificuldades para Desenvolver a Produção

Ocorre uma baixa freqüência nos horários determinados para os membros deste empreendimento, além de muitos já terem abandonado o grupo. Essas causas afetam a produção, pois apesar de serem muito habilidosos, não há um compromisso de grupo para produzirem, darem o acabamento e comercializarem. Então, os poucos que iam neste período produziam apenas as cortinas feitas de garrafa e tampa de PET e os bancos de mosaico. Produzem pouco pela grande demanda, quando há um pedido, não organizam essas encomendas. A forma de comercialização é mais por encomenda, pois as feiras e eventos que são em geral convidados a participarem, mesmo vendendo produtos, o principal objetivo é divulgar, receber pedidos de encomendas, ou como muitas vezes ocorre, visita no próprio espaço de produção em Caranguejo Tabaiares. No entanto, não havia produtos para exibir, quase ninguém estava lá para receber.

 

Participação em Eventos Solidários

            Os Jovens Empreendedores já participaram de diversas feiras e eventos, mas, os mais importantes foram, o I e II Festival da Economia Popular Solidária de Pernambuco, o EXPO Brasil DELIS, a Feira do Empreendedor no SEBRAE, Fórum Social Nordestino, Seminário Juventude e Trabalho e a Semana Josué de Castro. Essas participações em grandes e importantes eventos proporcionaram uma grande divulgação não só para o grupo, mas para todo Caranguejo Tabaiares, a quem eles representavam.

A ETAPAS é a grande responsável por assessorar, orientar e motivar estes jovens, desde ensiná-los a fechar o caixa até organização do processo de produção, ou mesmo pedir para que eles arrumassem e deixassem limpo o espaço para receber não só visitas de fora, como também da própria comunidade que podem utilizar o espaço para reuniões, cursos e outras atividades de interesse da comunidade.

 

A Outra Realidade da Desorganização

Um dos motivos que provocaram a saída de metade dos jovens deste empreendimento é de que não uma renda certa a receber todos os meses, ou seja, mesmo as diferenças das despesas e receitas serem positivas, não é o suficiente para remunerá-los, esse fato somente aconteceu algumas vezes quando cada um ganhou 15 reais. Esse pequeno lucro é reinvestido na compra de material de consumo, insumos para a produção e outros gastos.

Foi no momento em que acompanhei o fechamento do caixa do mês de maio, que entendi o motivo de muitos terem ficado sem serem remunerados. A maioria desses jovens antes não tinha sequer uma atividade diária, a não ser a escola para alguns e viviam sem perspectivas, pois a partir do momento que a ETAPAS, o DELIS, o SEBRAE e outras entidades começaram a prover formação às pessoas da comunidade, inclusive os jovens, como que efeito multiplicador, eles começaram a ter mais oportunidades de formação e de trabalho, poder fazer capacitações profissionais, cursos de extensão na FCAP gratuitos para a comunidade, participações em congressos e eventos, viajar para outros estados representando a comunidade, participar do engajamento político da ZEIS Caranguejo Tabaiares, fez com que muitos deles reconhecessem ser este um ganho maior do que dinheiro. Por isso muitos não deixaram o grupo, pois acreditam ser este um porto seguro, onde pode receber orientação, desenvolver um trabalhar e alcançar oportunidades de educação e trabalho.

Um exemplo disso é a atual coordenadora do grupo, ela tem dois filhos e um marido desempregado, antes de participar dessas atividades ela vendia picolé (sorvete no palito) num sinal na Estrada dos Remédios juntamente com os dois filhos, que na verdade eram eles que iam até os carros oferecer o produto, até o dia em que técnicos do PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) a abordou, lhe coibiu, orientou sobre o trabalho infantil e seus dois filhos foram cadastrados no PETI que fica na União dos Moradores de Caranguejo Tabaiares, por cada um recebe uma bolsa de 40 reais. Após, isso começou a fazer os cursos oferecidos pelo SEBRAE e depois ETAPAS, se integrou aos Jovens Empreendedores de Caranguejo Tabaiares até assumir a coordenação do grupo. Um outro ponto positivo sobre a história da coordenadora dos Jovens Empreendedores é que ela voltou a estudar, faz um supletivo de ensino fundamental II (5ª a 8ª série) numa escola do Estado onde aprendeu também informática e no próximo ano ela pretende fazer o ensino médio completo, sem ser por meio do supletivo.

 

MMesmo ouvindo e confirmando de perto toda essa natureza de dificuldades os resultados da intervenção da ETAPAS, SEBRAE (com o Projeto URB) e o DELIS junto aos Jovens Empreendedores de Caranguejo Tabaiares são muitos bons, pois dificuldades de organização e gestão do grupo produtivo nem se comparam ao dia a dia deles, muitos tem que fazer jornada dupla, ter um emprego ou fazer cursos e estar produzindo no Espaço Juventude Fazendo Arte.

Para suprir as necessidades de receitas, por não vender o suficiente, o grupo promove rifas dos produtos feitos por eles e bazares de roupas, calçados e bolsas que conseguem de doação. Essa passou a ser uma atividade importante para arrecadarem fundos para comprarem os materiais de produção.

 

Da Desorganização a Superação

No início do mês de junho os jovens reconhecendo a desorganização do espaço, da produção e comercialização, tiveram a iniciativa de procurar a ETAPAS e solicitar uma reunião para realizar uma conversar, pois esta ONG é quem financia muitas ações do grupo. O resultado desta conversa longa que falou desde a formação do até os problemas atuais, foi um pacto de que dentro de 1 mês eles iriam se organizar desde mudar a coordenação até dar maior autonomia do grupo.

Algumas medidas foram logo tomadas, como a troca de coordenação e secretaria, ficando apenas o tesoureiro, depois foram organizados bazares para arrecadar dinheiro para comprar os materiais e produzir quantidade sem haver pedidos, outro ponto foi a constante limpeza, arrumação do espaço, atualização da ata de freqüência, divisão das tarefas do grupo (Criação, Produção, Acabamento e Comercialização), reuniões quinzenais e o mais inovador dessas ações foi à seleção de novos membros, já que o grupo estava reduzido a oito membros na época. Foi feito um Edital de Seleção com critérios como ter acima de 16 anos, dedicação de 1 turno diário para as atividades do grupo, ter interesse em artesanato e ter interesse de trabalhar de forma coletiva e solidária. Devido à quantidade de inscrições ser grande, foi marcado um dia para apresentar o grupo aos inscritos e fazer as entrevistas. Cada membro antigo estava com um roteiro de perguntas e foram entrevistando paralelamente vários candidatos, alguns desses candidatos já foram do grupo, mas saíram e outros são novos e nunca fizeram cursos de capacitação.

Foram selecionados 22 jovens que depois de mais algumas reuniões de orientação e divisão dos horários, para que aja sempre alguém na casa. Como muitos não sabiam fazer artesanato, os mais antigos se adiantaram e assim como nas Corporações de Ofício da Idade Média, começaram com se fossem mestres artesãos a ensinar aos novatos as técnicas que eles aprenderam nos cursos. Essa medida foi importante para mostrar a continuidade dos trabalhos das entidades.

Terminei o acompanhamento contínuo no fim de agosto, observando estes últimos avanços do grupo. Nos meses seguintes apenas pude acompanhar algumas atividades esporadicamente, mantendo o contato e construindo propostas a partir dos dados obtidos e análise realizada, contribuindo de fato com a construção coletiva.

 

As entidades mais influentes: SEBRAE – URB, projeto DELIS

Muitos fazem curso em outras entidades: Recanto Madre Alix, FCAP, AdoLeScER, Centro de Trabalho e Cultura, Casa de Passagem.

Descrever como é o espaço de produção

Descrever como é a produção e comercialização de produtos

Não há renda, e sim dignidade

As dificuldades (produção, comercialização, baixa estima, evasão)

Participação em feiras

rifas

Bazar

Seleção

Nova coordenação

melhorias

Relacionar dados coletados;

Citar site

 

 

 

VII. Conclusão

 

Os Jovens Empreendedores de Caranguejo Tabaiares ainda não são um grupo produtivo organizado como uma associação de produtores, uma cooperativa ou mesmo uma empresa autogestionária. No entanto este grupo representa a luta e a superação de uma comunidade, desprovida de uma melhor qualidade de vida e de garantias concretas do poder público para ações sociais e estruturais que os façam sair dessa lama de marginalização.

A história do grupo produtivo é a mesma da comunidade de Caranguejo Tabaiares, não sendo possível falar ou escrever de um sem mencionar o outro, pois ambos são intrínsecos. As dificuldades apresentadas e as descrições de superação mostram que o sentido de coletividade é expresso pela esperança de cada jovem, sem romantismos exacerbados, é a realidade pura e suja de pessoas que querem alcançar algo mais que a vida lhes ofereceu até então.

A participação em feiras e eventos que apresentam experiências de economia popular solidária e desenvolvimento local sustentável fortalece e integra cada vez mais este empreendimento a uma outra economia, que não capitalista, cujo princípio é o de fomento humano e solidário.

O estágio inicial em que se encontra o empreendimento não deve desmerecê-lo de pertencer a este modo de produção solidário, talvez ainda não atinja todas as características exigidas, mas o intuito de não fazer parte de uma lógica de acumulação lhe cabe o mérito e devido incentivo para que se torne dentro em breve um empreendimento da economia solidária.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

VVIII. Bibliografia

 

CARANGUEJO – CAMPOS TABAIARES, Cadastro das Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS. BANCO de dados das ZEIS. Recife, jul. 2005. CD-ROM

 

ETAPAS. Caranguejo e Tabaiares: História, Lutas e Conquistas. Recife: ETAPAS, 1997.

 

INFORMATIVO CARANGUEJO TABAIARES. Recife: Projeto DELIS, ano 01, n. 01, fev. / mar. 2002.

 

INFORMATIVO CARANGUEJO TABAIARES. Recife: Projeto DELIS, ano 02, n. 03, ago. / set. 2003.

 

INFORMATIVO CARANGUEJO TABAIARES. Recife: Projeto DELIS, ano 02, n. 04, dez. 2003.

 

NOSSO JORNAL DE CARANGUEJO / TABAIARES. Recife: Projeto URBE, n. 01, mar. 2005.

 

NOSSO JORNAL DE CARANGUEJO / TABAIARES. Recife: Projeto URBE, n. 02, jul. 2005.

 

Projeto Terra Cidadã: Capibaribe sem palafitas. Caranguejo / Tabaiares Produto 3.1 – Diagnóstico Socioeconômico. Fundação Banco do Brasil, Prefeitura do Recife, Fundação Odebrecht, Recife, maio de 2005.

 

Projeto Terra Cidadã: Capibaribe sem palafitas. Caranguejo / Tabaiares Produto 3.2 – Relatório de Pesquisa Qualitativa. Fundação Banco do Brasil, Prefeitura do Recife, Fundação Odebrecht, Recife, maio de 2005.

 

Responsabilidade Social: Comunidade Tabaiares em busca de parcerias. FCAP NOTÌCIAS, Recife: MXM Gráfica e Editora Ltda, ano 08, n. 24, abr. / mai. / jun. 2005. p. 4.

 

SILVA, Maria Sheila Bezerra. Da Ex-sociedade de caranguejos e dos seus irmãos de leite aos “pombos sem asas”: Complexidades ambientais em assentamentos urbanos do Recife sob uma perspectiva antropológica. Dissertação (Mestrado em Antropologia Cultural) – UFPE, Pernambuco, 2004.