INCOOP-RN: UMA PROPOSTA DE Responsabilidade Social e Desenvolvimento local aTRAVÉS DA Universidade

Área: Desenvolvimento Local

Marcos Antonio Gomes Pena Júnior (PEP/UFRN/INCOOP-RN) – marcospenajr@gmail.com

Françoise Dominique Valéry (PPGAL/UFRN/INCOOP-RN) – francoisevalery@hotmail.com

 

RESUMO

O Desenvolvimento Local se dá através de um processo de desenvolvimento sócio-econômico e de quebra de paradigmas, a partir de uma população local. Para que as localidades se descubram, ou seja, para que haja uma melhoria na qualidade de vida de uma população é necessário que existam meios fomentadores dessa melhoria. Políticas de Desenvolvimento Local e incentivos vindos de atores externos às populações devem ser esses meios, permitindo à população de dada localidade alcançar melhores condições de vida e de desenvolvimento. Neste artigo pretende-se demonstrar as concepções e as discussões de diferentes autores sobre o tema e como as universidades podem interagir com a comunidade de forma comunitária. Chega-se à idéia de que os agentes locais, em especial as universidades, necessitam exercer sua capacidade de tomar frente no processo de desenvolvimento, considerando-se que elas são um ator social isento de influências de agentes sociais egoístas e que, assim, podem exercer atividades de cunho altruísta, como necessário para que um processo de desenvolvimento socialmente responsável tenha sucesso.

 

1. Introdução

O Desenvolvimento Local / endógeno (de dentro para fora) se dá através de um processo de desenvolvimento sócio-econômico e de quebra de paradigmas (cultura social), a partir de uma população local (conjunto da população com necessidades e anseios similares: comunidade, bairro, distrito, município, associação de municípios, região entre outros) que busca melhorias na sua qualidade de vida usando como alavanca seus ativos e suas potencialidades. Este novo conceito desenvolve-se em decorrência da falência das tentativas de desenvolvimento local a partir de elaborações de políticas centralizadas de cunho clientelista (largamente implementado pelos governos até os anos 1980).

A discussão aqui desenvolvida tem como finalidade demonstrar o poder das localidades quando suas potencialidades são alavancadas e fomentadas na tentativa de alcançar uma melhor condição estrutural para estas localidades. Seja desenvolvendo projetos sociais, estimulando e assistindo projetos já existentes ou criando novos projetos externos, seja criando incubadoras de desenvolvimento de empresas sob regime de co-gestão, autogestão ou cooperativa, para prestar assessoria técnica e outros serviços de cunho tecnológico a estas, as Universidades, através de seus projetos e programas de extensão, têm total possibilidade de funcionar como tal sistema fomentador.

No texto são desenvolvidos raciocínios a partir de análise de literatura que discute formas de inserção social da população, diminuição da ineficiência dos programas e projetos voltados para a parte carente da população e sobre responsabilidade social empresarial, tendo em vista não existir literatura a respeito de Responsabilidade Social Universitária (o que seria representado pela atividade de extensão das Universidades). Além desta introdução este ensaio consiste na parte dedicada ao problema de pesquisa, depois numa breve elucidação a respeito do desenvolvimento local, em seguida na relação entre a responsabilidade social empresarial (RSE) e o desenvolvimento local, são apresentadas algumas características da Incubadora de Cooperativas e Iniciativas Populares do Rio Grande do Norte (INCOOP-RN), como exemplo elucidativo da questão e, por fim, as considerações finais.

2. Problema de pesquisa

As Universidades buscam exercer seu poder de impacto social através dos programas e projetos de extensão, o que poderia ser considerado como a Responsabilidade Social da Universidade.

Uma atividade de extensão busca aliar as questões científicas às questões sociais, ou seja, transformar as pesquisas científicas em resultados práticos e melhorias sociais factíveis, além de colocar os indivíduos do meio universitário em constante contato com a prática e com a atividade social.

Assim, coloca-se como questão de pesquisa a descoberta de uma vertente conceitual para o tratamento da extensão universitária como atividade científica e social. Para tanto, discute-se o norte dado pela literatura que versa sobre Responsabilidade Social Empresarial e coloca-se também a apresentação de um caso prático de extensão que congrega ciência com intervenção social.

3. O desenvolvimento local

A idéia de Desenvolvimento Local baseia-se no pressuposto de que as localidades dispõem de recursos econômicos, humanos, institucionais, ambientais e culturais, além de economias de escalas não exploradas, que constituem seu potencial de desenvolvimento. As estratégias e as iniciativas de desenvolvimento local, se bem elaboradas, propõem-se a realizar o estímulo ao correto manejo desses recursos (ZAPATA, 2004). Políticas elaboradas com este intuito não são coerentes com o sentido dele, se não são realizadas em âmbito local.

Políticas Públicas definidas e planejadas no “topo da pirâmide pseudo-democrática” não conseguem explorar essas potencialidades, já que as análises do “macro-planejador” não conseguem se ater às peculiaridades das localidades. É a partir do estímulo à exploração dessas potencialidades (estímulo à diversificação da base econômica local) que se favorece o surgimento e a expansão de empresas locais, bem como a integração social da comunidade envolvida em tal contexto (ZAPATA, 2004; FRANCO, 1999; PAIVA, 2004).

As políticas de Desenvolvimento Local podem ser tratadas sob três óticas: centralizadora (de cima), onde o Estado elabora os programas e projetos sem a consulta à comunidade e sem se preocupar com uma articulação com a Iniciativa Privada e o Terceiro Setor; liberal, através da operacionalidade dos mecanismos do mercado (empresas privadas), onde o Estado deixa que as empresas aloquem os recursos da maneira que acharem adequado; e, Localizada / Regionalizada (de baixo), onde existe uma articulação local e uma pró-atividade da comunidade interessada (FRANCO, 1999; AZEREDO, 2004; INOJOSA, 2004; PRATES, 2004).

A articulação local e a pró-atividade são os fatores que podem despertar o que Franco (1999) chama de “Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável”. Este mesmo autor diz que se as políticas públicas forem desenvolvidas nesse intuito as comunidades serão “capazes de: suprir suas necessidades imediatas; descobrir ou despertar suas vocações locais e desenvolver suas potencialidades específicas; e fomentar o intercâmbio externo aproveitando-se de suas vantagens locais” (p. 176).

Para que essa “engrenagem” do desenvolvimento local possa funcionar, é de fundamental importância a animação e a articulação dos atores locais, tais atores locais (universidades, empresas, organizações da sociedade civil, governos, comunidades, entre outros) devem orientar-se para uma maior utilização dos recursos endógenos e para a diversificação da base produtiva local (FRANCO, 1999; SPINK, 1999; ZAPATA, 2004). O funcionamento dessa “engrenagem” requer um tempo longo para sua maturação e cada ator local deve interagir com os outros, ofertando seus ativos (capital financeiro, humano, intelectual, social, entre outros) para que se chegue a essa maturidade.

A pró-atividade de organizações de âmbito local é que pode levar a uma verdadeira articulação das potencialidades das comunidades. Essa articulação, por sua vez, é o que propicia a união das habilidades, conhecimentos, recursos e interesses dos diversos atores sociais (FRANCO, 1999; CARDOSO, 2002; KISIL, 1997; ZAPATA, 2004). Fazendo necessário, nesse sentido, que o fomento para tal conscientização seja dado sem, contudo, que se perca de vista que são os atores locais que devem buscar não só desenvolver projetos sociais, como influenciar os demais atores sociais e os governos a realizar programas e projetos nesse sentido.

Essa articulação depende, como fica claro, da necessidade de uma ação pró-ativa por parte das instituições inseridas nas comunidades, sendo fundamental a postura das Universidades, por exemplo, através de suas Incubadoras tecnológicas de cooperativas populares (ITCPs), que existem desde 1995 e desenvolvem projetos produtivos em consonância com movimentos sociais e grupos excluídos. Por ter o foco no desenvolvimento e as condições mais propícias ao contato com ações replicáveis, as Incubadoras buscam parcerias de instituições e empresas que devem se inserir no contexto das políticas públicas, buscando fomentar o desenvolvimento necessário.

Para que um processo de Desenvolvimento Local logre sucesso é preciso que no decorrer dele sejam observados os seguintes aspectos:

©     Geração de oportunidades de capitalização – processo de “oportunização” de acumulo de capitais por parte das comunidades;

©     Geração de Benefícios Sociais – impactos sociais positivos na comunidade envolvida;

©     Equidade na distribuição dos benefícios gerados – distribuição igualitária dos benefícios (financeiros, econômicos e sociais) entre os indivíduos da comunidade;

©     Eliminação da descriminação – conscientização da comunidade para que sejam eliminados preconceitos discriminatórios, quer sejam de raça, gênero, etário ou de classe;

©     Elaboração de mecanismos efetivos de participação da comunidade (cidadania) – desenvolvimento de ferramentas que impliquem na efetiva participação dos indivíduos da comunidade no desenvolvimento do programa (RUFINO, 2003; FRANCO, 1999; KISIL, 1997; CARDOSO, 2002).

Contemplando toda essa configuração explicitada pode-se citar um exemplo de política pública em relação ao desenvolvimento local que foi o programa Oportunidade Solidária, desenvolvido na prefeitura de São Paulo e implementado em agosto de 2001. Este programa funcionou como fomento ao desenvolvimento da população em termos sociais e econômicos. Teve como objetivos: desenvolver as potencialidades humanas, estimular a coesão social, promover a cidadania (pertencimento e protagonismo), e gerar ocupação, renda e desenvolvimento social. Alvejou servir de fomento à economia popular solidária (cooperativismo, associativismo, redes e outras formas solidárias de organização econômica) junto às comunidades empobrecidas distribuídas no território local (cidade), portanto como exemplo de desenvolvimento local. Sendo possível observar que as ações, em sua grande maioria, contaram com a participação direta (pró-atividade) e com o apoio de empresas locais (PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO PAULO, 2005).

4. A responsabilidade social das empresas (RSE) e o desenvolvimento local

Como discutido, para que haja desenvolvimento substancial é necessário que os atores locais adquiram uma consciência holística (do todo) e atuem de acordo com as condições e necessidades locais. Seguindo essa linha de raciocínio e partindo da observação de que os atores mais capazes e aquinhoados de uma sociedade necessitam reforçar as bases sociais para que todos os atores possam alcançar níveis de desenvolvimento satisfatórios e que permitam a superação de dificuldades sociais, afirma-se que é de suma importância que estes (atores mais aquinhoados) tomem consciência de sua atuação social. Isto é suscitado como elemento chave para a realização de um processo de verdadeira responsabilidade e atuação social de qualquer ator que tem melhores condições de promoção de desenvolvimento.

O termo Responsabilidade Social Empresarial (RSE) representa, para alguns, a idéia de obrigação legal, para outros a imposição às empresas de padrões mais altos de comportamento, ainda há os que o traduzam como a prática social, função social e papel social e outros o vêem associado ao comportamento eticamente responsável ou à filantropia. Por último, existem alguns que acreditam ser a RSE a crença dentro de uma organização em ser um “ser responsável” ou um “ser socialmente consciente” (PINTO, PEREIRA e LARA, 2004). Apesar dessas diferentes visões é fácil observar que a tese central é que ser socialmente responsável é, de uma forma ou de outra, com um ou outro intuito, ajudar na busca por melhorias sociais.

As discussões sobre o que seria a RSE se iniciaram em 1953 com o livro Responsability of the Businessman de Howard Bowen nos Estados Unidos. A partir desse momento é que se começa a observar o impacto social do funcionamento das empresas e a colocar em questão as condições que estas devem assumir para seu posicionamento organizacional. Assim, as discussões passam a abranger diferentes níveis de debate e de foco. O Quadro 2 mostra como são divididas as principais linhas teóricas a esse respeito.

Quadro 2 – Linhas de raciocínio sobre a RSE

Ações privadas

Abordagem normativa

Abordagem contratual

Abordagem estratégica

Fonte: Autor (com base em KREILTON, 2004; MATTEN, CRANE & CHAPPEL, 2003; CARROLL & BUCHHOLTZ, 2000; GENDRON, 2000; GIBSON, 2000; DONALDSON & PRESTON, 1995; LOGSDON & PALMER, 1988).

A abordagem normativa (Escola da Ética Empresarial) indica que a RSE é um dever moral da empresa e que, portanto, é intrinsecamente boa. A abordagem contratual (Escola de Mercado e Sociedade) analisa que a Responsabilidade Social das Empresas é por si só um contrato social, ou seja, está tacitamente acordado entre sociedade e empresa e que, por isso, se dá de maneira legitima. Já a abordagem estratégica (Escola da Gestão de Questões Sociais) afirma que a empresa pode tirar proveito das oportunidades geradas pelos valores sociais, que o comportamento socialmente responsável pode lhe garantir uma vantagem competitiva e que uma postura pró-ativa pode fazê-la antecipar-se a novas legislações ou mesmo evita-las e que, em decorrência disso, é um instrumento útil na gestão da empresa (KREILTON, 2004). Estas são as três visões que norteiam as empresas e seus gestores na tomada de uma decisão nesse âmbito. Assim:

As três escolas de pensamento (...) partem de campos e princípios bastante distintos, em sua abordagem do questionamento ético e social das empresas. A escola da Ética Empresarial (Business Ethics), enquanto ramo da ética aplicada, propõe um tratamento de cunho filosófico, normativo, centrado em valores e em julgamentos morais, ao passo que a corrente que poderíamos chamar de Mercado e Sociedade (Business & Society) adota uma perspectiva sociopolítica, e sugere uma abordagem contratual aos problemas entre empresas e sociedade. Por fim, a escola da Gestão de Questões Sociais (Social Issues Management) é de natureza nitidamente utilitária, e trata os problemas sociais como variáveis a serem consideradas no âmbito da gestão estratégica (KREILTON, 2004).

Trazendo para uma realidade nacional e mais recente, no entanto, considera-se que Responsabilidade Social Empresarial se dá a partir do momento em que a empresa se torna parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. Assim, a empresa deve se condicionar a ouvir os diversos interesses (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, governo, meio ambiente e, principalmente, da comunidade) e conseguir incorpora-los nas suas atividades, buscando a tender às demandas de todos os envolvidos no processo produtivo e não só daqueles que têm o benefício direto (acionistas e proprietários) (INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL, 2004). Uma empresa só se torna deveras socialmente responsável quando consegue reunir a capacidade de perceber sua importância no funcionamento social e a habilidade para agir de modo a alcançar o desenvolvimento da sociedade (XAVIER e SOUZA, 2004), estando, portanto, mais voltada para a abordagem contratual, por que se considera que tal comportamento é legitimo e existe em virtude de acordos e contratos sociais tácitos, os quais estão fundados nas noções de justiça e igualdade. Essa mesma consideração e nesse mesmo âmbito pode-se extrapolar tais idéias para o balizamento das ações de outros atores sociais tão aquinhoados e responsáveis quanto as empresas, como é o caso da universidades.

Desde o ano de 1998 as empresas brasileiras têm um norte para suas ações no que respeita à responsabilidade social, que é o Instituto Ethos. Este instituto elabora critérios para que as empresas possam transformar em realidade a discussão a respeito do seu sistema organizacional, dentro dessas idéias. Assim, coloca sete tópicos principais que são: valores e transparência, público interno, meio-ambiente, fornecedores, consumidores/clientes, comunidade e governo e sociedade. Este tópicos se subdividem, de acordo com o exposto no Quadro 3.

Quadro 3 – Princípios norteadores da prática de responsabilidade social

Tópicos

Conceitos associados

Valores e Transparência

Auto-regulação da conduta

-Compromissos éticos

-Enraizamento na cultura organizacional

Relações transparentes com a sociedade

-Diálogo com as partes interessadas

-Relações com a concorrência

-Balanço social

Público interno

Dialogo e participação

-Relações com sindicatos

- Gestão participativa

Respeito ao individuo

-Compromisso com o futuro das crianças

- Valorização da diversidade

Trabalho decente

-Política de remuneração, benefícios e carreira

-Cuidados com saúde, segurança e condições de trabalho

-Compromisso com o desenvolvimento

profissional e empregabilidade

-Comportamento frente a demissões

-Preparo para a aposentadoria

Meio ambiente

Responsabilidade frente às gerações futuras

-Comprometimento da empresa com a causa ambiental

-Educação ambiental

Gerenciamento do impacto ambiental

-Gerenciamento do impacto no meio-ambiente do ciclo de vida de produtos/serviços

-Minimização de entradas e saídas de materiais

Fornecedores

Seleção, avaliação e parceria com fornecedores

-Critérios de seleção e avaliação de fornecedores

-Trabalho infantil na cadeia produtiva

-Relações com trabalhadores terceirizados

-Apoio ao desenvolvimento de fornecedores

Consumidores e clientes

Dimensão social do consumo

-Política de comunicação comercial

-Excelência de atendimento

-Conhecimento dos danos potenciais dos produtos e serviços

Comunidade

Relações com a comunidade local

-Gerenciamento do impacto da empresa na comunidade de entorno

-Relações com organizações locais

Ação social

-Financiamento da ação social

-Envolvimento da empresa com a ação social

Governo e sociedade

Transparência política

-Contribuições para campanhas políticas

-Práticas anticorrupção e propinas

Liderança social

-Liderança e influência social

-Participação em projetos sociais governamentais

Fonte: INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL, 2004.

A discussão em torno do espaço que as empresas devem preencher começa a ser esboçada com mais clareza a partir do Consenso de Washington, onde os estados passaram a delinear suas ações de acordo com as políticas ali defendidas. Esse processo deixou no seu rastro um vazio no lócus da sociedade, o campo social. Assim surge o Terceiro Setor, que nada mais é que a ação da sociedade civil organizada na tentativa de preencher os vazios deixados pelas políticas de Estado Mínimo. No entanto, essa iniciativa da sociedade civil, apesar de crescente, ainda é incipiente para assegurar a sustentabilidade do desenvolvimento. E é justamente nesse ponto que as empresas percebem a importância de sua atuação como agente social para que se possa alcançar o crescimento econômico a longo prazo, ou seja, em bases sustentáveis (MACHADO e LAGE, 2002; RODRIGUES e SOUZA, 2004). Então, não é só pelo fato de que um comportamento socialmente responsável é moral que as empresas devem assim se comportar nem também por que isto é uma ferramenta útil na geração de vantagem competitiva, mas por que a sociedade permite o funcionamento perfeito da empresa numa perspectiva de que ela deve gerar boas soluções para o desenvolvimento da sociedade, ou seja, ela deve ter esse comportamento porque ele representa um acordo tácito entre as partes na busca de sustentabilidade.

Este mesmo aspecto pode ser suscitado em relação às universidades que têm uma ligação mais forte com a sociedade e são, de certo modo, o próprio berço do terceiro setor e da ação da sociedade civil organizada.

5. Metodologia

O Trabalho foi desenvolvido através de uma pesquisa referencial em literatura que trata das questões de desenvolvimento local e de responsabilidade social empresarial, de onde foi construído o embasamento teórico para a discussão.

Em seguida foi realizada uma pesquisa documental nos arquivos da INCOOP-RN, no seu plano de negócios e nos registros de suas atividades, bem como da experiência particular dos autores como gestores do projeto. Foram resgatados os dados a respeito de seu funcionamento, seus impactos sociais e sua conduta na lida com as questões que se lhe apresentam.

6. Análise dos resultados: INCOOP-RN

A Incubadora de Iniciativas e Cooperativas Populares do Rio Grande do Norte (INCOOP-RN) é a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) do Rio Grande do Norte. É um projeto de extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), oficializado em Outubro de 2001 com o intuito de fomentar a economia solidária e o desenvolvimento sustentável de grupos urbanos e rurais em situação de exclusão social. É um espaço de geração de conhecimentos e intervenção social aplicada, articulando ensino, pesquisa e inclusão social. Atua incubando grupos de economia solidária, desenvolvendo sua capacidade de autogestão e produtiva. Fomenta o contato entre a população atendida, estudantes universitários (graduação e pós-graduação), docentes e profissionais desprezados por trabalharem com grupos excluídos e pouco aquinhoados.

De acordo com o que foi colocado a partir da literatura sobre desenvolvimento local, existem alguns aspectos fundamentais para o sucesso de tal processo. Dentro das atividades desenvolvidas pela INCOOP-RN foram observados comportamentos que decorrem do cuidado para o cumprimento da finalidade do projeto INCOOP-RN que é o desenvolvimento local através de práticas de responsabilidade social dos indivíduos envolvidos.

Respeitando a necessidade de geração de oportunidades de capitalização, a INCOOP-RN atua desenvolvendo o plano de negócios dos seus grupos incubados (grupos produtivos de economia solidária), sempre em caráter de auxilio nesse desenvolvimento, ou seja, levando as ferramentas aos grupos e fazendo que estes criem seu próprio plano com suas próprias e idéias e de acordo com suas próprias necessidades. Esse processo leva os indivíduos dos grupos a passarem a um estágio mais elevado de desenvolvimento gerencial e de consciência econômica que antes do processo, chegando, com isso, a melhores condições de capitalização (desenvolvimento dos negócios produtivos).

Os impactos sociais daí decorrentes também são outro aspecto positivo da maneira como atua a INCOOP-RN e, mais uma vez, trazem o caráter emancipatório (desenvolvimento local) que decorre da atuação desta. São gerados como benefícios sociais: a resocialização de comunidades marginalizadas; a geração de oportunidades educativas (acesso à educação tanto formal quanto profissionalizante); acesso a serviços sociais e econômicos antes não alcançados; aumento da auto-estima; entre outros.

Neste desenvolvimento social e econômico as comunidades passam por processo educacionais e de conscientização através da problematização de suas realidades que as levam a uma consciência social e holística digna do processo que representam. Isso faz com que todo o processo da atividade produtiva de economia solidária seja pensado de maneira a manter a equidade dos resultados entre os indivíduos, ou seja, o modo pelo qual os resultados são divididos respeita o caráter equidistributivo.

Ainda em decorrência destas atividades e dinâmica social, observando a interação necessária e a importância de cada indivíduo no processo, alcança-se um estágio onde os indivíduos destas comunidades passam a se enxergar como atores sociais envolvidos na mesma realidade e onde, portanto, não cabem questões de preconceito e descriminação. As comunidades desenvolvem assim seu pensar no sentido de eliminar preconceitos discriminatórios, quer sejam de raça, gênero, etário ou de classe.

Tudo isto é realizado de acordo com os anseios e possibilidades dos indivíduos da localidade, ou seja, são as pessoas que compõem as comunidades que ditam quais são as regras de funcionamento do sistema que a INCOOP-RN ajuda a ser criado. São os grupos que definem quais são suas potencialidades e deficiências, oportunidades e ameaças quando da elaboração de seu planejamento estratégico. São os grupos que definem quais são suas necessidades materiais e quais estratégias devem ser trilhadas para a superação desta dificuldade. São os grupos que definem quais são os cursos, oficinas e treinamentos que devem lhes ser oportunizados. Dentro de todo esse processo cabe a INCOOP-RN o papel de facilitador das ações, executando, na medida de suas restrições, o que foi delineado pelos grupos.

Todos estes aspectos vão ao encontro das características suscitadas como determinantes de uma prática socialmente responsável pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. O desenvolvimento das atividades respeitam princípios como compromissos éticos (eliminação da discriminação, consciência de equidade), enraizamento na cultura organizacional (desenvolvimento da auto-consciência dos indivíduos dos grupos), diálogo com as partes interessadas (todo o processo é realizado pelos próprios indivíduos e grupos populares sem interferência dos técnicos da INCOOP-RN exceto no auxílio ferramental), gestão participativa (os indivíduos passam a ter a consciência da liderança como representatividade e não como impositória), compromisso com o futuro das crianças (geração de renda e de oportunidades para as famílias), valorização da diversidade (eliminação da discriminação e aplicação da equidade), cuidados com saúde, segurança e condições de trabalho (práticas organizacionais definidas pela própria comunidade envolvida e criação de melhores possibilidade sociais e econômicas), compromisso com o desenvolvimento profissional e empregabilidade (geração de renda, desenvolvimento do empreendimento de ES e oportunização de acesso à educação), comprometimento com a causa ambiental e educação ambiental (cursos de educação ambiental e assessoria aos empreendimentos no que respeita às suas atividades produtivas e seus respectivos impactos ambientais), gerenciamento do impacto do empreendimento na comunidade de entorno (os grupos incubados são representativos da comunidade onde estão localizados), relações com organizações locais (favorecimento de redes de inter-relacionamento), até que se chegue ao status desejado de emancipação e autogestão (atividade fim do processo de incubação), entre outras características das ações empreendidas pelas Universidades através das ITCPs.

Deste modo, permite-se uma grande variedade de atendimentos aos grupos incubados. No caso da INCOOP – RN, as atividades voltaram-se para: Agricultura Orgânica (famílias de produtores e consumidores da grande Natal); Caprinocultura e Apicultura (familias de pequenos produtores rurais da Região Central do Cabugi e da região do Mato Grande); Artesanato (Mulheres e Jovens de diferentes regiões do estado); Corte e Costura (Mulheres das periferias de Natal) e Reciclagem (Jovens das áreas periféricas de Natal e do interior).

7. Considerações finais

O Desenvolvimento Local tem sido estudado e aplicado como solução à incapacidade das políticas públicas centralizadas em dar respostas às demandas sociais. Como resposta social, por tanto, é colocado como o desenvolvimento alcançado a partir das percepções, dos recursos e da criatividade endógenos das comunidades tem impactos positivos para estas. Sendo, dessa forma, suscitada a pró-atividade dos indivíduos sociais como responsável por tal resposta.

Famílias em situação de exclusão social e grupos sociais marginalizados devem ser vistos não só como os constituintes das populações atendidas pelos programas desenvolvidos nesse contexto, mas também o conjunto das organizações aí envolvidas. Mais que em organizações, pode-se falar em instituições (daí a importância da valorização institucional). Isso por que os atores desse processo não são apenas o poder público e a sociedade (que por si só já respaldaria a conceituação de instituição), mas, ainda, a Universidade, a Ação privada e a Ação da sociedade civil organizada.

Realizar o fomento à articulação de redes de cooperação social, colaboração inter-organizacional e coordenação destas e dos programas (sua continuidade / sustentabilidade) é o cerne do desenvolvimento local (entendido como a concretização de uma pró-atividade comunitária, onde comunidade representa os atores já citados).

Por não existir literatura que trate da responsabilidade social das universidades, foi tratada a RSE como norte para as reflexões da necessidade de uma pró-atividade socialmente responsável por parte das universidades no que tange às ações de desenvolvimento das localidades. Assim, é necessário extrapolar os conceitos e as práticas do âmbito empresarial para o âmbito universitário, apesar da Universidade ter uma estrutura organizacional sui generis. O pressuposto básico é que a Universidade deve reconhecer sua influência, sua capacidade de fomento e seu impacto na sociedade. A partir daí deve agir de maneira a corresponder às necessidades sociais, atingindo, desse modo, uma consciência e uma ação geradoras de práticas socialmente responsáveis e indutoras de desenvolvimento, notadamente através de suas atividades de extensão como colocado no caso da INCOOP-RN.

A comunidade também não deve se eximir de sua parcela de responsabilidade nesse processo. Pode-se dizer, inclusive, que sua atitude é primordial no processo de desenvolvimento dentro dos novos paradigmas, como discutido. É importante e necessário que a sociedade (de maneira geral e ampla) tome para si a responsabilidade de criar um ambiente economicamente mais dinâmico e socialmente mais justo. Não está sendo feita aqui uma explanação em favor da desresponsabilização do Estado em favor da responsabilidade única da sociedade. O fato é que são os atores locais os mais interessados e mais capazes de perceber por quais caminhos devem caminhar para lograr um estágio de desenvolvimento satisfatório, e as universidades têm bem essa percepção, dado seu caráter científico-investigativo. É neste sentido que atuam as Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCPs) ligadas às Universidades do País.

O texto hora desenvolvido não teve a pretensão de indicar resultados, mas de dar um norte para futuras pesquisas, mostrando um caminho (hipótese) de que comunidades culturalmente esclarecidas podem lograr sucesso na busca de melhores estágios de desenvolvimento. E que projetos de extensão que visem o esclarecimento/emancipação dos indivíduos podem lograr essa resposta (como é o caso das ITCPs). Uma maneira interessante de se confirmar, através de resultados de pesquisa, a validade de tais apontamentos é levantar dados a cerca do desenvolvimento de diferentes localidades que tenham tido a oportunidade de vivenciar processos dessa natureza, onde universidades buscaram tomar frente em processos de desenvolvimento e intervenção social, e de outras que não tenham tido tal oportunidade, contrastando tais dados. Os casos dos grupos sociais atendidos pela INCOOP-RN podem indicar tal apontamento.

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RUFINO, Sandra. Redes de cooperação solidária na contribuição do desenvolvimento local: a economia solidária em questão. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 23, 2003, Ouro Prermulações e debates acerca de uma maior apropriação e delimitação conceitual e porque não dizer pragmático também. O presente artigo objetiva contribuir nesse debate apontando para o aspecto pedagógico do processo de incubação, percebendo o mesmo como uma pedagogia social que precisa estar pensada como estratégia que possa contribuir na construção e reconstrução de significados e sentidos com vistas a efetivação de um projeto que de fato aponte para a uma realidade de efetiva presença da propriedade coletiva dos meios de produção (Singer, 2002). Identificando também, o papel do agente incubador em todo esse processo. Parece-nos assim, que esse processo que se revela como um genuíno processo de educação popular, é também um processo de construção de novas culturas organizacionais baseadas não mais na heterogestão, mas sim na autogestão, demandando novas dinâmicas que para além da importante viabilidade econômica, precisa ser também de viabilidade social e política. Incubação: uma pedagogia social que se faz num lançar-se etnográfico Prevot e Barros apresentando a experiência de incubação desenvolvida pela Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da COPPE/UFRJ, definem o processo de incubação como sendo um Processo contínuo de planejamento, ações e decisões entre os atores envolvidos, no qual ocorre a aquisição de conhecimento, fazendo com que os usuários possam avançar no debate acerca das questões abordadas. Pressupõe a aprendizagem mútua entre pesquisadores e grupos interessados a fim de elucidar, de forma participativa, os problemas que emergem ao longo do processo, buscando as possíveis soluções. (Prevot e Barros, 2000:292). Esta definição sugere que a incubação se traduz, não só numa estratégia instrumentalizadora de coletivos populares, mas também, num processo educativo amplo, no qual, incubadores e incubados encontram-se em verdadeira troca de saberes. Poderíamos assim, identificar a incubação como uma pedagogia social, tendo em vista ser ela, como diria Antonio Petrus (1998), uma “didática das relações sociais” que em seu papel socializador, desenvolve junto aos coletivos com os quais se relaciona, e aqui nos referimos não só aos ditos beneficiários, mas também a própria universidade, a aquisição de uma série de competências, de disposições à participação social, resignificando, para além das práticas, o habitus, na acepção de Bourdieu, desses coletivos. Enquanto prática educativa, ela se desenvolve no cotidiano do processo de instituição dos empreendimentos enquanto espaços que vislumbram a posse coletiva dos meios de produção,