Critérios
de Projeto e Scale-up de Processos em cristalizadores tipo tanque agitado (STR)
O critério básico de agitação
em cristalizadores é o da manutenção dos sólidos
em suspensão através da menor dissipação possível
de energia por volume de cristalizador. Ë recomendado o uso de chicanas
para evitar a formação de vórtice e respectivo arraste
de gás para o seio do líquido quando o número de Reynolds
(Re) é superior a 1.000. Aqui Re é definido por:
Re = ND2/nL
onde:
N - rotação do rotor (s-1);
D - Diâmetro do rotor (m)
nL - viscosidade
cinemática (m2/s)
Em um cristalizador tipo STR a agitação
deve no mínimo garantir que os sólidos estejam em suspensão,
A velocidade mínima de suspensão (Nmin) é
dada por

onde a velocidade volumétrica de produção
de massa de um cristalizador (mcv) é dada pela razão
entre a massa gerada na unidade de tempo Mc e o seu volume V. e Dr
a diferença de densidade entre o sólido e a solução.
Por razões práticas, é necessário
que seja dada especial atenção ao fluxo em um cristalizador
tipo STR em relação aos processos de mistura, suspensão,
abrasão e aglomeração dos cristais, a destruição
dos aglomerados, o transporte de massa entre os cristais e a solução
e o transporte de calor entre a suspensão e a superfície
de troca.
- Fluxo e tensão de cisalhamento
O fluxo volumétrico (Qcirc) no
cristalizador é dado por:

sendo Qv a capacidade de bombeamento
O fluxo volumétrico específico, ,
por:

onde V é o volume do cristalizador .
Para uma dada rotação, N , rotores
que favorecem a movimentação de líquidos, como ,por
exemplo, "propellers", requerem muito menos energia de acionamento do que
os que não favorecem o fluxo de líquido, tais como as turbinas
do tipo "multiple flat blade". A potência P é dada por:

A figura 1 apresenta a capacidade de bombeamento
de uma hélice marítima, com e sem chicanas e a figura 2 o
número de potência (P0) para diversos tipos de
rotores.
Figura 1 – Capacidade de bombeamento
Figura 2 – Número de Potência
Para Re>104 o fluxo volumétrico,
no entanto, pode ser considerado independente da configuração
geométrica do cristalizador e da relação D/T. Neste
tipo de cristalizador, a dissipação de energia específica
média ( ) e a local, e
, diferem significativamente. A variação do valor de
com a altura H do vaso agitado é dada por:

A figura 3 apresenta a variação experimental
da relação entre a dissipação de energia específica
local e a média. Estas linhas isoenergéticas permanecem constantes
durante a ampliação de escala de cristalizadores geometricamente
similares, se Re> 104. Estes diagramas mostram que a região
em que ocorre a maior dissipação de energia local ocorre
nas vizinhanças do rotor. É neste local que ocorrerá
a maior parte do atrito nos cristais maiores e nos aglomerados.
Figura 3 –Variação da relação
entre a dissipação de energia específica local e média
Os melhores rotores que resultam em menor atrito
são aqueles cujo número de potência (P0)
é menor para uma maior capacidade de bombeamento (Qv)
e aqueles que podem ser operados com uma dissipação de energia
específica média mínima relativamente à mistura
e suspensão.
Aglomerados relativamente fracos podem ser destruídos
por uma tensão de cisalhamento ts.
A tensão de cisalhamento teoricamente permitida para cristais e
aglomerados pode ser estimada da figura 4., onde a força de tensão
"tensile strenght" de aglomerados e cristais é colocada em um gráfico
contra o tamanho das partículas. A tensão depende do tipo
ligação entre as partículas no aglomerado: forças
de capilaridade, eletrostáticas, intramoleculares ou pontes de sólidos.
O aglomerado irá quebrar quando a tensão de cisalhamento
do líquido ts
, superar a tensão do aglomerado.
Figura 4 – Tensão entre as partículas
de aglomerados e de cristais sólidos em função de
seu tamanho (L): a- açúcar; b- sais de potássio; c-
carbonato de cálcio; d- carbeto de boro.
Para o regime turbulento (Re> 104) a tensão
de cisalhamento ts,
turb, pode ser estimada pela relação:

Na figura 5 apresenta-se linhas de tensões
idênticas para diferentes rotores. A tensão máxima
ocorre, naturalmente, também na área de saída do rotor
e pode ser estimada, para diferentes tipos de rotor e com várias
relações de diâmetro rotor/tanque, pela seguinte equação:
Figura 5 – Linhas de mesma tensão de cisalhamento.
Rotores tipo hélice marítima, que favorecem
o fluxo de líquido, são recomendáveis para uma circulação
suave da suspensão de cristais. Quanto maior o tanque agitado e
maior a relação entre o diâmetro do rotor e do tanque
(D/T), a dissipação específica de energia será
convertida mais em um volume de circulação específico
Vcirc e menos em tensão de cisalhamento média:

Esse é o motivo de se recomendar a integração
da potência específica necessária para a mistura e
suspensão no vaso agitado no maior rotor possível e não
em vários agitadores pequenos e de se equipar cristalizadores grandes
com propelidores tipo hélice marítima com D/T ³
0,5, que favorece a circulação do líquido. Deve-se
notar, no entanto, que a capacidade de mistura de cristais na suspensão
diminui com o aumento do tamanho do cristalizador. Em outras palavras,
uma mistura constante implicará, para a ampliação
de escala, na manutenção da velocidade empregada no modelo,
ou seja, de acordo com ,
a dissipação média de energia irá aumentar
com o quadrado do diâmetro do impelidor, mantendo-se idêntica
configuração geométrica. Esta grande dissipação
de energia não só é antieconômica como causa
uma grande quantidade de abrasão nos cristais.
Para Re > 104, o tempo de macromistura
em líquidos é dado por:

Esta relação pode fornecer valores
úteis também para suspensões. O tempo de macromistura
é da ordem de poucos segundos, mas pode ser consideravelmente maior
na região de transição (10<Re< 104),
especialmente na região laminar.
A macromistura tem por objetivo compensar diferenças
locais de certos parâmetros (temperatura, concentração,
supersaturação, etc.), embora a relação entre
o tempo de macromistura e a magnitude destas diferenças não
sejam, em geral, conhecidas.
O rotor deve não somente misturar os líquidos
como manter os cristais suspensos. A rotação mínima,
Nmin, necessária para manter a suspensão de cristais
pode ser determinada, considerando-se que o poder de sedimentação
das partículas, Psett , deve ser compensado pela potência
do agitador, Pmin , que resulte na mínima dissipação
de energia, emin
= Pmin/Vrméd.
:

onde wss é a velocidade de sedimentação
do sólido.
A figura 6 apresenta o adiminesional de potência
específica ( ), como função
da razão T/L para diferentes valores de fração volumétrica
de sólidos, jT
, para um "propeller" com T/D = 3 em um cristalizador com H/T =1. Quando
a relação entre o diâmetro do tanque (T) e o tamanho
das partículas (L) é inferior a 1000 (T/L<1000), recomenda-se
que o parâmetro seja
mantido constante. Para T/L >1000, o parâmetro
selecionado de modo a que a suspensão possa ter o menor valor quanto
maior for o diâmetro do cristalizador em escala industrial, de acordo
com a relação Np
D = constante, ou . . Entretanto,
deve-se notar que um fluxo volumétrico constante requer na ampliação
de escala, uma rotação N constante. Infelizmente, lembrando
que , mantendo-se N constante,
haverá um aumento drástico na dissipação de
energia , para cristalizadores
geometricamente similares, implicando no aumento da nucleação
secundária e, consequentemente, diminuindo o tamanho médio
dos cristais.
Figura 6 – Adimensional de potência específica
em função da relação de diâmetros do
tanque(T) e do cristal (L).
As diferentes leis que regem o processo de suspensão
em vasos agitados de tamanhos variados de sólidos resultam do efeito
físico de partículas colidindo (T/L®
1) ou não colidindo (T/L®¥
) quando desviada do obstáculo (rotor, fundo do tanque, curvas),
dependendo das propriedades características das partículas
(diâmetro do cristal, L) e do rotor (diâmetro do rotor D) e
do fluxo de entrada da suspensão. Em cristalizadores muito pequenos,
a probalidade de colisão é praticamente 1 (isto é,
praticamente todas as partículas colidem, resultando na formação
de depósitos no fundo do tanque. Neste caso a dissipação
de energia necessária permanece praticamente constante, de modo
que as partículas são arrastadas do fundo para o meio líquido.
A probabilidade de colisão, ht
, (o< ht <1)
depende, acima de qualquer coisa, do número de Stokes,

como mostrado no diagrama da figura 7. Tanto na equação
acima quanto na figura 7, vl é a velocidade da partícula.

Figura 7 – Probabilidade de colisão em função
do número de Stokes
[topo] |