Depois de realizar
produções em diversos países, ela vem ao Festival do Rio
2003 para lançar Voltando para Casa (Julie Walking Home,
2002), que ganhou o Leão de Ouro do ano passado em Veneza.
Além do Globo de Ouro que recebeu em 1991, as outras
indicações para os principais prêmios do cinema ocidental em
seu currículo deixam claro por que Agnieszka Holland está
entre os mais importantes diretores vivos da Europa.
Nascida em Varsóvia,
capital da Polônia, em 1948, Agnieszka decidiu ser cineasta
bem cedo e foi para Praga, na vizinha Tchescoslováquia,
estudar cinema. Ingressou na FAMU (Universidade Nacional de
Filme, Arte e Música), instituição de referência em estudos
de cinema no Leste Europeu, onde lecionaram Milos Forman (Hair,
Amadeus, O Povo contra Larry Flint) e Ivan Passer (Stalin,
Primeiro Amor de Verão), entre outros diretores importantes.
Sua formação foi completada, ainda, como assistente de
direção de Andrzej Wajda e colaborando com Krzysztof
Kieslowski, ambos também poloneses.
Agnieszka e sua obra são
marcadas por uma forte politização, que a diretora viveu na
pele. Recusou-se a fugir de Praga durante a ocupação
soviética de 1968 e acabou presa. Quando voltou à Polônia, o
país estava vivendo o início das lutas por reformas no
socialismo, encabeçadas pelo sindicato Solidariedade.
Agnieszka Holland retratou o movimento no filme Complô
Contra a Liberdade (To Kill a Priest, 1988), baseado no caso
polêmico de um padre militante que fora assassinado. Quando
foi decretada a Lei Marcial na Polônia, em 1981, Agnieszka
fugiu para evitar nova repressão, e se exilou em Paris, onde
ficou radicada pelas décadas seguintes.
A obra de Agnieszka Holland,
uma verdadeira autora de cinema, inclui produções realizadas
em diversos países, como Polônia, França, Inglaterra,
Alemanha e Canadá, entre outros, mas sempre com alguns laços
em comum. Família, política e questões judaicas são temas
recorrentes em seus filmes, boa parte deles baseados em
fatos reais. Colheita Amarga (Angry Harvest, 1986) é uma
história do Holocausto, em que uma judia escapa de um trem
que ia para campos de concentração e se refugia na plantação
de um fazendeiro católico. A perseguição nazista é retomada
em Filhos da Guerra (Europa Europa, 1990), sobre um rapaz
que consegue esconder sua origem judaica e se infiltra na
Juventude Hitlerista.
Em 1992, filmou o belíssimo
Olivier, Olivier (Olivier, Olivier, 1992), outra história
verídica, sobre o que ocorre numa família como conseqüência
do desaparecimento de um filho, no interior da França. A
direção meticulosa e sensível de Agnieszka deu ao
protagonista Grégoire Colin o César (o Oscar francês) de
ator-revelação em 1993.
Alguns de seus melhores
filmes são mais recentes, porém não os mais cultuados da sua
carreira. Sob a bênção de Francis Ford Coppola, a polonesa
fez sua estréia em Hollywood com O Jardim Secreto (The
Secret Garden, 1993). Dois anos depois dirigiu o astro jovem
Leonardo DiCaprio em Eclipse de uma Paixão (Total Eclipse),
sobre o relacionamento tempestuoso dos poetas Verlaine e
Rimbaud. Continuou dirigindo filmes nos EUA, como A Herdeira
(Washington Square, 1997) e O Terceiro Milagre (The Third
Miracle, 1999), trabalhando com atores hollywoodianos como
Ed Harris e Jennifer Jason Leigh.
Mesmo
viajando pelo mundo para realizar seus filmes - Voltando
para Casa foi filmado na Polônia e no Canadá -, Agnieszka
Holland mantém fortes os laços com suas origens. Seu próximo
projeto é filmar a história real de Juraj Janosik, um herói
nacional eslovaco. |